quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Cometa

Penso nos cometas
e de como eles aparecem no véu negro
e perpassam rápido por seu manto
iluminando-0.
O manto aquecido e perfurado
por apenas alguns instantes...
O cometa passa
o desejo fica
e
o manto continua aquecido
esperando
o estranho voltar.

sábado, 6 de novembro de 2010

Preto no Branco

Quando falo a verdade
acreditam ser mentira.
Quando sou máscara
sou idolatrada.
Não posso ser sentimento
tenho que ser eternamente
pensamento.
Mundo incompatível
destino sem destino
corpo esvaziado
em ruelas sem fim.

Caminha pelas ruas
a alma solitária
ri para os amigos
o corpo camuflado.
O esboço de mim
Fortaleza, muralha...estrada
brinco de ser eu
no deserto do saara.

Privada

Coca-cola, cigarro e chuva.
Composição de um corpo fragmentado.
A solidão aumenta no meio da multidão
no entorno de
falsos risos, falsas alegrias.
Num porre no bar
as dores entupidas
em veias e artérias
privadas encobertas
por uma pele
mal-cicatrizada.

sábado, 30 de outubro de 2010

Entre-órgãos

Entre meus órgãos
o vazio
preenchido
pela fumaça do cigarro.

sábado, 23 de outubro de 2010

Paredes

Caminho, sabendo aonde posso chegar
caminho andando para trás
defesas de passos machucados.
Areia voa, voa
para esconder os calos.
Nada é como antes
o sorriso persiste
enquanto a língua lambe as lágrimas derramadas.
Nada é como antes.
A criança tem hora para brincar, o sorriso tem hora para nascer
porque tudo que vivemos é planejado
racionado
imaturado
desvelo sem fim.
Medo do segundo passo.
O primeiro é sempre escudo.
Outro passo para trás.
Medo de doer, de criar mais uma cicatriz
que teremos que esconder.
Medos, medos, medos...
constrói-se mais incertezas
sobre o que está certo.
Os outros riem enquanto nos afastamos
riem da nossa pieguice
de querermos ser fortalezas
para
escondermos-nos entre paredes
e lançarmos
perguntas atrás de um sentido.
Um sentido que nos motive a seguir desta vez
adiante.
Atrás destas paredes está nosso segredo:
a vida é melhor vivida sem pensar.

sábado, 2 de outubro de 2010

Mar

Estranho desejo.
Ficar a observar o mar.
E esperar a onda.
Ela se formando desde o horizonte, e aumentando seu tamanho.
E eu sem saber se nado até ela
ou se espero ela se aproximar.
Estranho risco:
de conseguir mergulhar
por dentro dela
ou ser tomado
e sem ar
cair cair cair
sem saber aonde vai dá.
Estranho. Estranho. Assustador.
Mas assim é o mar.
Apavorante mas hipnotizador.
Difícil parar de olhar para ela.
Não sei o que fazer.Estou a fazer castelos de areia.
As nuvens passaram, o Sol se desfez, e agora
com a Lua, ela está mais bela do antes.
E eu aqui parada, esperando por ela.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Segredo

Tudo que vivo
vivo em pensamento
o resto é tentativa
de tentar viver.
Não que não queira ser além
de pensamentos.
Não que meu corpo não faça
suor e trema calor.
Sim, teus olhos são
meu gozo.
Mas meu gozo é escondido.
Não me expõe, não me reprime
não me atormenta.
É segredo prazeroso.
Guardado em mim, na pele, na roupa
na seda que escolho
para me esconder.
Grito e choro quando te vejo.
Mas tudo isso é segredo.
Segredo que um dia
você descobrirá.

sábado, 3 de julho de 2010

Recanto

Desenho linhas para seguir.
Linhas leves para se perder.
Desenho linhas que um dia vivi.
Linhas que ainda vejo e desejo.

Desenho linhas para viver.
Para nos sonhos eu poder tocar
Abraçar e beijar
sem pensar.

Desenhos linhas perto de curvas.
Desenhos linhas doces, linhas perfumadas
linhas vermelhas
linhas confusas e fechadas.

Desenho linhas medrosas
linhas maduras, linhas que me olham
linhas que não falam
linhas que sempre param no ponto
que não podiam parar.

Desenho linhas para olhá-las
Desenho linhas para sonhar
e nestes sonhos
poder seguir no esboço
tuas linhas
e lá ficar.

Onde Vivem os Sonhos


Geraldo Barros



quinta-feira, 3 de junho de 2010

Elementos

Meus pensamentos me perseguem
São vícios encrostados na pele
como pura sensação
pura ilusão
de ter você comigo
sempre
quando respiro.
Acordo sozinha na cama
ou em outras camas
com alguém outro
de mim
e de você.
Vou em direção ao desconhecido.
Fecho os olhos para não viver a minha realidade.
Na escuridão, eu me sinto
e nela eu te encontro.
Você, caminhando em minha direção
passando por mim
sem me tocar
meu coração pulsando
com medo de demonstrar tudo o que eu sinto
tudo que eu quero.
Você me olha e eu não sei o porquê.
Água.
Cada momento
da sua voz
é um tempo infinito
de um espaço nã0-vazio
que não quero
sair.
Fogo.
Respiro.
Alguém está me vendo, com esse sorriso
de alguém que descobriu a sua infância?
Tenho vergonha.
Sou casulo, você, fortaleza.
Sou incerteza.
Achei o tesouro e não sei o que faço.
Venha. Eu te chamei. E você, fortaleza veio.
Encontro.
Pra me dizer adeus?
Não.
Você não é jogo, não entende?
Pensei, mas não falei.
Ar.
Respiro.
Estou apaixonada, não vê?
Tantas pessoas
tantas passaram por mim
peça para eu ficar.
Terra.
Você não disse.
Passei.
Agora, vivo novo vazio
com você,meu pensamento
encrostado embaixo da minha pele
ardendo.
Eu fui ar e fogo
você terra e fogo.
Eu passei. Você ficou.
Temos na distância
a chama que nos cicatriza.

domingo, 30 de maio de 2010

Ilha desconhecida

O mar brota da ilha desconhecida.
As ondas despertam o novo viajante.
Rema, rema marinheiro
que a tua ilha está chegando.
Penetra em suas terras ocultas
delira no espaço desconhecido
que hoje é só seu.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Olímpio


Acordo. O que se reproduz dentro da minha escuridão é a minha ânsia de libertação. Preciso fumar, sem ninguém me olhar. O desejo avança e a preguiça latente na minha cama, se esvai pela luxúria da dependência.
O que é criticado é o que me move, infelizmente.
Não sei se pelo vício ou pelo julgamento, tudo isso me cansa.
Levanto-me enquanto os outros dormem. A cidade está nascendo tão cinza quanto meus pulmões.
O cimento dos prédios são as manias dos homens em se meter em natureza alheia.
Sozinha contemplo aquela beleza do Sol dissimulante em delírios de gigantes palácios aonde as formigas se rastejam por ruelas esvoaçadas.
Vivo o meu Olímpio.
Ai, a luxúria não me acordou do sonho.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Saída

As mesmas coisas de sempre
passam na televisão:calamidades, choros, mortes e sofrimento.
O tempo passa e as minhas percepções sobre esse assuntos
vão mudando e se movendo
como batidas de asas ao vento.
Cansa não ser mais a mesma.
Ser infiltrada por uma carga de novas informações
novas manipulações
novos conhecimentos.
A criança cresceu com saudades.
Quando mudamos sem percebermos?
Nunca imaginei que atitudes tinham tamanha consequencia.
Em algum momento me falaram.
Em algum momento eu ouvi.
Mas não sei porque ainda,hoje, me surpreendo.
Mais uma morte vejo agora.
E não tem nada a ver com corpos deixados na estrada
após um desabamento.
A morte homeopática
cresce da esperança que vai se esvaindo
facilmente pelo ralo.
As mesmas coisas de sempre.
As mesmas desculpas.
A necessidade que se tornou irresponsabilidade.
Ai, que frase falada com facilidade.
Frase que circunda e se espalha sem dor, sem sofrimento, sem morte, sem nada.
Desculpas.
Quantas desculpas.
E do outro lado quanto medo.
Não foi culpa sua. Você fez tudo o que podia.
Vozes saídas do povo para aqueles que morreram hoje, ao ter a chance de viver novamente,agora sozinho.
E do outro lado, se pergunta sobre as máquinas, sobre nossa tecnologia de ponta
que vai além de Marte.
Sem respostas.
Silêncio ou baboseiras.
Ninguém fala realmente uma resposta.
Mas respostas não vão preencher o vazio que se encontra caminhando pelos abrigos.
E há ainda quem diz que a culpa é da necessidade que se tornou irresponsabilidade.
Outros perguntam e oram para "aquele" que Nitzsche tentou matar um dia.
Não morreu, eu respondo.
Não pela catástrofe que ocorreu.
Não morreu, porque ainda precisamos de respostas que o homem não consegue dá.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Resposta

Ontem, o Sol nasceu verde
e o céu ficou da cor
das matas
mescladas
entre o claro e o escuro.
O mar saboreava as ondas
e as ondas
ameaçavam a areia.
Meus passos filtravam as cinzas
que de mim
iam caindo.
E o olhar ouvia a música
do fenômeno
e nos ouvidos
só tinham o meu silêncio, meu pensamentos, meus desejos...
A solidão me combina
amizade preterida
entre os outros.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Onda

Eu cresci e tudo mudou.
Meus amores mudaram
meu "eu" era seu
e hoje
eu não me esqueço.

Eu cresci e ainda continuo pequena.
Grande cólica que não passa
hoje me livrei te ti
com pílulas.

Tudo é uma questão de tempo
tempo que xinguei
e hoje
eu o batizo
meu amigo.

As ondas passaram
as ondas marcaram
lembro-me do meu primeiro amor
e como passo por ele
só com um sorriso.

Meu coração boiou.

Eu amei.
Eu amava.
Eu ainda amo
respiração ofegante
num corpo deixando-se suave.

Antes eu gritava
faria tudo para estar contigo.
Hoje, eu faço tudo
pra me sentir comigo.

Não me esqueço mais
me entrego ainda
para quem nada devo, nada ofereço
além de um momento.

Pois, eu cresci
e aprendi
não posso entregar
meu coração
meus pensamentos
a mim, eles nunca perteceram.
Posso entregar o que sou
dentro de um estou
posso entregar meus momentos
pois a mim
não me interessa o amor
palavra parada
me interessa amar
em ondas suaves
e de tormenta.

Os pensamentos repletos
ficam boiando
no mar
aonde alguém...

Alguém mergulhou
o coração pulsou
minha pele suou
e meus movimentos
são todos desejos.

Ainda sou pequena
no seu colo
no seu abraço
no seu ouvido
mergulha mais
pra eu ficar te sentindo
enquanto a onda vem vindo.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Coragem

É preciso não ter medo de colocar um ponto final, para poder continuar.
As coisas mudam e nós mudamos.
Hoje, somos dois estranhos.
Os dias vieram e nas tardes sagradas
encontravámos o elo
dos nossos contrastes.
As diferenças eram brincadeiras
e as semelhanças nossos segredos
nossos encontros
nossos papos
trocas e liberdade.
Tudo ficou em algum lugar
que não vemos mais
que não somos mais.
Somos outros estando junto.
Encontro sem interseção.
Éramos quase crianças, hoje, somos realmente adultos.
Nossos encontros
são solidões não admitidas.
O diálogo esvaiceu, a admiração se foi.
Ficou as críticas, e a vontade
de que o outro seja diferente.
Talvez, estejamos com medo de admitir
que não somos mais.
Admitir que os sentimentos são passageiros
e que as promessas não são eternas.
Admitir que as diferenças vencem
e que os encontros acabam.
Talvez, estejamos com medo de nos perguntar:
como seria a minha vida sem você?
Com medo da resposta nem a fazemos.
Estamos com medo de olhar o presente,
como crianças que tem medo de ser adulto.
Como um adulto com saudade de ser criança.
Mas não é pra isso que serve a infância, nem os encontros.
A infância é assim
um dia acordamos
e descobrimos
que ela não está mais aqui
ficou num mar de lembranças.
E em ondas traz dentro das garrafas, mensagens pra ficarmos com saudade.
Talvez este seja o nosso melhor destino.
Talvez.
Se assim for, que seja de lembranças boas.
Por favor, coloque o ponto final quando para isto lhe for preciso.