sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Mulher

O cheiro de café, vindo da cozinha. A música de batida suave tocando bem baixinho na sala. A luz fraca iluminando o corpo seminu da mulher deitada no sofá. As coxas livres, o dorso vermelho, a calcinha sufocando o corpo abafado pelo calor da estação.
As coisas mudaram e ele não entendeu o porquê. Não há mais espaço para a mesmice: do suor vindo da traição, da ausência na cama, do fingimento de haver amor.
Para que mentir, quando a necessidade é transformar?
Existem muitas formas para ter impulso para mudar, umas delas é perceber rapidamente que acabou e querer mudar, ato corajoso e bravo; a outra é se cansar de ver todos os dias que não há espaço para aquela mesmice, ato não tão corajoso, mas ainda assim vivo; um verdadeiro conjunto de fraqueza e incompetência. Medo de perder quem perdeu há tempos, fraqueza de ficar só, estando com aquela carne incompatível com a tua na cama, no beijo e no sexo.
Mas agora ela decidiu mudar. Um dia olhando-se no espelho viu um cílio branco. Um cílio branco. Pegou aquele cílio e ficou a imaginar de onde viera aquela brancura. Sim, era bem verdade, que já apresentara alguns fios de cabelo branco, e até havia aparecido um em uma das sobrancelhas. Mas somente em uma. E mesmo assim, pintara todos, a sua juventude ainda não era ameaçada. Mas um cílio.
Pensou em retirá-lo.
Perdeu alguns minutos olhando-o.
E ficou pensando no porquê daquele fato desagradável. Pensou nos estresses, nas dores, nas lágrimas, e de como estava só. E teve vontade de chorar de novo. Seus olhos encheram d’água e brilhavam muito junto com o cílio. Sentiu-se cansada. E com raiva dele. E prometeu nunca mais chorar, por ele. Teve raiva de si, de estar perdendo tempo de chorar ainda por ele. E resolveu mudar.
Olhou para o céu, havia poucas estrelas, e encontrou facilmente as Três Marias. Fez um pedido. E ali jurou lutar mais por si. Daquela promessa, nasceu uma nova amante.
Não ligou mais para ele, e não sofreu mais também.
Descobriu novas noites, novos homens, novos amores. E quis experimentar todos. Para ter sempre o novo em sua vida, e assim poder ser sempre nova também.
Adora novelas, e ás vezes, resolve ter um caso de amor.
Mas não duram mais de nove meses.
Já conhece a fórmula de si, e adora mostrar o rebolado.
Atrai um novo caso, brinca e ri. Termina. Brinca e ri com as amigas. Atrai um novo caso, e joga de sedutora, e fica nesse pseudo-romantismo. Essa é a sua graça: ver se ainda gosta, ou melhor, se entrega a alguém. Joga cara e cora, e às vezes, dá galinha outras vezes romântica.
Hoje, no calor da noite, toma um gole de café. Sente vontade de fumar. Abre a janela e olha as estrelas. A vontade se esquece de si. Põe uma música e deita no sofá. Livre e com o corpo sem remorsos. Pronto pra provar um novo amor.


quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Leveza

Noites a mais pra encher fantasias
E poder brincar, dançar, rir e ser leve.
Se preparar para o novo, para novos encontros
Com outros.
As estrelas brilham mais.
Os movimentos são largados e livres
Os beijos múltiplos saúdam as nossas vontades.
Da mudança. Da entrega. Do amor.
Feliz, brincando sempre corre a pequena
Às vezes, criança...
Às vezes, presa nos olhos daqueles que ela quer.
Mas se deixando ser livre
Enquanto a borboleta já livre do casulo
Aproveita a sua beleza que conquista os amantes.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Fugas tardias

A cara maquiada, encenando uma linda mulher
O lápis no olho para se preparar pro novo encontro
Descasos e fugas
A vontade de se perder, uma nova forma de corrosão
Amores partindo com um breve e vazio adeus
Fugas tardias.
Será que são necessárias?
O brilho dos olhos coberto pela maquiagem borrada
E a necessidade minha de um abraço.
Mas a noite será boa, após a música
E a vontade de cantar,dançar e desejar novos beijos
Reviver.
Para o brilho que há no seu sorriso voltar.
E agora,
Um novo abraço celebrando o momento da felicidade
E curtindo mais um novo encontro.