segunda-feira, 29 de junho de 2009

Fome

Um beijo numa noite
desiludida.
Um vai além de onde
não se esperava nada.
Beijo, toques sobre o corpo.
Batida estridente
a música é sobre a gente.
Corpo descoberto
suado
renovado.
Corpo penetrado
dilacerado
despetalado.
Morte transformada.
A transpiração
tenta apagar
as marcas sobre a pele.
Branco, azul, preto, lilás.
O tic-tac é
carregado
de vermelho.
O meu orgasmo é amarelo florescente.

sábado, 27 de junho de 2009

Vermelho, branco, amarelo...

Imenso mar que me conforta
traz nas ondas
um vai e vem
de sensações de liberdade.

Caminhava pelo campo.
Uma grama verde e molhada acarinhava os pés
da mulher que nunca deixou de ser menina.
Caminhava ou corria descalça, com os cabelos soltos.
Era dona de si e não se preocupava com que os outros podiam falar.
Não pensava.
Sentia apenas
Um sofrer nem sempre dor mortal, mais dor que revive, aquilo que se esqueceu...
Acordava cedo, catava delicamente cada grão, cada semente que ia plantar.
Suas plantas eram delicadas, tudo era delicado: o toque, o preparar a terra, a semente, o molhar, o plantar, cada centímentro de diferença da distância de uma para outra...tudo um viver atencioso com o segundo cair de seu suor.
Na rua, as pessoas andavam, às vezes, a viam
às vezes, a olhavam
de noite, a observavam
a admiravam, e a temiam.
Viam nela, o que não tinham em suas vidas.
Vivia sozinha.
Às seis, parava e tomava um café na janela em sua velha casa
neste dia, chovia
delicadamente
na grama
e ela fumava ali, na parte de cima do sobrado, vendo o cinza florir vida.
O Sol aparecia no fim do espetáculo.
Delicado.
Mais tarde, tomava um banho, numa ducha de água pouca e quente
se casulando
com o ar frio
que raspava na pele, às vezes.
A água protegia e levava sempre algo
esquecia o tempo
esquecia a rua
esquecia tanto...que não se lembrava
de pensar em algo...que deveria esquecer.
Sentia. E lá ficava
As gotas a bater nas costas, a passar pela perna, pelos pés...
E quando se lembrava de sair,
deixava sua cabeça se libertar
para a água escorrer entre os cabelos e a nuca.
Colocava um vestido, escolheu vermelho.
E saiu.
A noite violava, e seu corpo dançava no salão.
Cada par, tinha seu cheiro.
O suor a libertar a pele, e os cabelos
a estar descabelados.
Até que, um de todos resolvera aparecer.
Era um, diferente dos outros.
Chamou a sua atenção.
O risco de ser um, somente, lhe atraía.
E todos observavam aquele que não era os outros.
Achavam-o menor.
E ela no menor, o achava único.
Violavam seus olhos por muito tempo, num tango delicado
e sincero.
Violaram o bolero dos outros, e dançaram
num vai e vem
no mar vermelho, branco, amarelo...
Numa doce sensação de liberdade.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Nada aconteceu...

Todo o meu medo
se reduz no medo de não-ser.
Sei o que sinto, e desejo.
Luto contra mim
vigiando meus sentidos
que te procuram a todo momento.
Sou vigilante de mim.
Porque em mim está um outro
que divaga sempre
em sonhos.
E neste lugar, posso ser e viver o que nunca deixei
de querer viver.
Passo a passo.
Sem receio,sem medo
com cuidado, de não furar
o tempo onírico de viver um ....
Um tempo outro
da realidade de não poder te tocar.
Com cuidado, te sinto.
Sentindo-me.
Adentro no meu ser, e sinto seus braços..
teu corpo quente...
Abraço-te
e espero sempre suas palavras
que nunca vêem no meu ouvido.
Abro os olhos, e nada foi vivido
aqui.
Tenho saudades do lá.
Entre o lá e o aqui
caminho distante...por quê?
Nunca soube.Voltei no medo do não-ser.
Sou um duplo desejo
sou uma dupla essência
um duplo fingimento
um andante covarde e petulante
que divaga por aí
divagando dentro de si.

domingo, 14 de junho de 2009

Desejo

Beijo e beijo mais
cada vez mais
sem poder parar
sem saber o porquê
desse desejo de beijar
de beijar
pensando...
nesse desejo indesejável
de não conseguir parar
de beijar
vocÊ.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Amarelinha

Um caminho torto construído
na madrugada.
Um peito quente, uma mensagem
diferente
me deixa acordada...por quanto tempo?
Não tomo chá das 17h, mas tomo café
a todo momento,
água que me mata divagando sob meus poros.
A ditadura da rua me cansa
não vejo nada
não vivo nada,
ando apressada, sempre.
sempre.
Não vejo nada...
não vejo nada a tanto tempo...
a tanto tempo não vejo...
uma estrela.
Estou com saudade da minha infância.
Da minha inocência, da vontade de brincar que nunca passou.
Abraço a saudade que tenho do lugar que vivi a liberdade
de poder errar...
Ai, a saudade é minha irmã.
Olho para trás, pensando na minha frente.
O caminho que me direciona
não tem estrelas, não tem natureza, não tem
nada
vivo.
Mentiras, ilusões
egocetrismo.
Um lago sem peixinho.
Quero o mar, sem saber nadar...mergulhar
sem saber se vou voltar
quero...
pegar ar
e poder respirar
correr o risco de
morrer, ou de viver...
Andar na terra e subir em árvores
comer jabuticabas e não pedras.
Mergulhar no Sol e na cachoeira.
Parar
para sublimar
o nascer e o morrer do dia
e não de mim.