segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Cortina


A luz teima em entrar...enquanto os outros olham
para a janela.
Não se sabe, o que está acontecendo lá
um encontro, uma amizade, um carinho...
A cortina álibi é infame, não deixa a curiosidade
se conformar.
Do lado de cá, é a única testemunha
das palavras doces, dos olhares suspeitos
do ar preso há muito tempo...
O sofá acolhe, suspira...e ri dos movimentos
livres de julgamentos.
A cortina do lado de lá se fecha
e a de cá se abre.
Vê-se cada vez menos, só vultos
e pensamentos.
Um adeus, um até logo e um último...
Agora, andamos na rua
igual aos outros
sem nada pra nos diferenciar, sem nada
pra incomodá-los.
Agora somos os outros.
Cansa-me cada dia ser outra...
cansa-me aceitar ser outra...
abaixar a voz
e
falar de amores para dentro.
Devo voltar a ser quem era?
Não desejo mais.
Não me satisfaz mais...um novo beijo pra cada dança
Não me satisfaz mais tanta coisa e tantas pessoas
Que a história riria de si
se pudesse voltar o seu tempo
Estou mono.
Estou cansada de correr...
Resolvi ficar e esperar
Verei a água passar...
Espero que passe por mim...ou que um dia volte
não pra sermos igual
Mas pra respirarmos juntos, dividirmos-nos
destruir-nos
ligando-nos novamente sem medo, sem receio.
Voltarmos a ser crianças
maduras em arriscar.
Quem sabe...
um dia a cortina ficará aberta...

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Januária

Vai Januária fazer graça na janela
pra ver caras novas
e esquecer tudo que gosta de perturbar.
As luzes da cidade gostam
de encantar, e mostrar a beleza
das ruas cheias de mulatas
danadas
que gostam de sambar
Vai Januária
encantada pelas ruas
sem se preocupar com a chalaça
dos outros.
Vai com seu copinho de cachaça
sem fiscal sem nada
com seu riso esnobe
pra tanta falta de verdade.
Januária parou
e de repente
assumiu que ele ficara
cada vez
mais
na sua mente.
Quem via Januária
via que a menina
não era mais a mesma
tinha um encanto outro
nos olhos,
um encanto de menina
e
um
encanto de mulher
encanto desejoso
encanto de uma linguagem que todos entendiam.
Januária vinha
e
traduzia
as letras do chorinho
dentro do seu coração.