segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Não, não vale...

Não vale mais o mundo vil em que vivo.
Criei um mundo pelos olhos
e quero tirá-los quando me incomodo de ver.
Não, não vale tudo por amor...
Porque tudo não cabe no amor.
O amor é simples
não possui nada.
Amor não tortura.
Amor não mata.
Minto.
Mata, sem matar
Mata, por fazer nascer
por fazer você não ser somente você.
Eu gostaria de saber o que sou...
Ou das quantas das quais eu sou, qual delas eu gosto mais.
Um ser com nome pouco pronunciado
e com muitos pré-nomes criados,somente agrada um pouco.
Na verdade, o que eu sou, eu escuto muito pelos outros
mas o que o outro vê, sempre parece-me
ser um ser de ninguém...
E apesar disso,este ninguém ainda tem escrupulos de vir, confrontar-se
com o meu velho ser.
Uma luta sem graça,diária,cansativa e... dolorida.
Dolorida?
Sim.
Devo ceder, então, um não-ser para mim, e um ser-ninguém para o outro?
Não.
Não quero.Não desejo. Realmente e definitivamente,Não.
Não vale tudo por amor.
Porque tudo não é amor.
E o amor basta em si, em ser
somente
amor.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Cortina


A luz teima em entrar...enquanto os outros olham
para a janela.
Não se sabe, o que está acontecendo lá
um encontro, uma amizade, um carinho...
A cortina álibi é infame, não deixa a curiosidade
se conformar.
Do lado de cá, é a única testemunha
das palavras doces, dos olhares suspeitos
do ar preso há muito tempo...
O sofá acolhe, suspira...e ri dos movimentos
livres de julgamentos.
A cortina do lado de lá se fecha
e a de cá se abre.
Vê-se cada vez menos, só vultos
e pensamentos.
Um adeus, um até logo e um último...
Agora, andamos na rua
igual aos outros
sem nada pra nos diferenciar, sem nada
pra incomodá-los.
Agora somos os outros.
Cansa-me cada dia ser outra...
cansa-me aceitar ser outra...
abaixar a voz
e
falar de amores para dentro.
Devo voltar a ser quem era?
Não desejo mais.
Não me satisfaz mais...um novo beijo pra cada dança
Não me satisfaz mais tanta coisa e tantas pessoas
Que a história riria de si
se pudesse voltar o seu tempo
Estou mono.
Estou cansada de correr...
Resolvi ficar e esperar
Verei a água passar...
Espero que passe por mim...ou que um dia volte
não pra sermos igual
Mas pra respirarmos juntos, dividirmos-nos
destruir-nos
ligando-nos novamente sem medo, sem receio.
Voltarmos a ser crianças
maduras em arriscar.
Quem sabe...
um dia a cortina ficará aberta...

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Januária

Vai Januária fazer graça na janela
pra ver caras novas
e esquecer tudo que gosta de perturbar.
As luzes da cidade gostam
de encantar, e mostrar a beleza
das ruas cheias de mulatas
danadas
que gostam de sambar
Vai Januária
encantada pelas ruas
sem se preocupar com a chalaça
dos outros.
Vai com seu copinho de cachaça
sem fiscal sem nada
com seu riso esnobe
pra tanta falta de verdade.
Januária parou
e de repente
assumiu que ele ficara
cada vez
mais
na sua mente.
Quem via Januária
via que a menina
não era mais a mesma
tinha um encanto outro
nos olhos,
um encanto de menina
e
um
encanto de mulher
encanto desejoso
encanto de uma linguagem que todos entendiam.
Januária vinha
e
traduzia
as letras do chorinho
dentro do seu coração.

domingo, 7 de setembro de 2008

Marcas

Antigamente, madame cuidava de planta
e batia em preto por não ter alma.
Depois que o preto comprou
bate-se por ser inferior
já que ganha pouco.
Tem negro que bate em preto
com raiva
do mundo
que cicatriza o nome
junto à pele,
o que faz diferença
é o dinheiro que a torna esquecida.
É...
esses olhos não vêem
o preconceito que quase sumiu.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Os oim do meu amor

Batida suave...
eu estou sorrindo
eu estou cantando
um não sei o quê
que eu nem ligo
estou voando
no horizonte de um abismo
eu
mergulhei
e não estou
sozinho.

Encanta,fascina
esse teu olhar.
Prende, e faz
o amor virar
água
água
que no meu sangue
não pára de caminhar.
O resto do mundo
está
fora do abismo
não entra em mim
O resto
não
é gozo
nem
suor

...

é
um simples
perfume.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Viagens

"A maior viagem é aquela que você não sai do lugar".

Surdo é aquele que nunca percebeu que o silêncio palpita.

Mudo é aquele que nunca teve vontade de dizer algo
e nunca percebeu que nem sempre
se tem tempo para perder
o que se diz em um segundo.

Cego é aquele que nunca reparou nos segredos da vida
que tudo não tem nada de segredo
que tudo é uma tentativa
que nem tudo você pode ter
que nem tudo você pode perceber
que nem tudo é para ser tudo
que o mais importante não é ver
mas sentir
e saber que o que você sente
é um segredo
que talvez você nunca realize.

Tentar ser novo...

Começar
e lutar para não morrer em vida
aceitar que todos temos algo de parasita
Parar não muda...
mas para ter paz é preciso parar
para pensar
e se sentir
e se amar
se aceitar
até para errar
...
tentando acertar.

Pare
para respirar...
respirar não é tão fácil como se imagina.
Pare e respeite-se
pois
amar
é mais fácil do que dizem.

Importâncias

Quando você começa a gostar
é quando você mais aprende a perder.
Prefere não ter, do que ter triste.
Prefere a solidão
do que a companhia solitária.
Prefere a distância, do que o perto apertado
amargo e sufocante.
É quando você aprende que um minuto
vale a pena toda corrida
e todo suor
para ter um sorriso, um beijo
ou um abraço.
É quando você vê a importância do tempo...
É quando você aprende
que ouvir a voz dele
te cria um mundo de esperança
para sorrir.
É quando teu coração palpita
como o de uma criança
e quando você respira
se sente uma mulher.
É quando o silêncio significa muita mais...
e estar perto
preenche...
É quando "tudo" nunca basta e sempre se quer mais.
É quando um sorriso significa
um abraço apertado
e suas mãos significam um acordo zelado.
É quando...o quando fica para sempre na memória
e a memória se torna palavras no diário
que só vocês dois
entendem.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008


Estranho é ficar distante

sentindo saudades

procurando suas pegadas

cheirando suas marcas

enquanto a onda vem

e leva tudo que tenho que me leva à você.

Só não leva minha memória

que continua

lembrando seus olhos, e cheiros

enquanto a onda vem e apaga meus passos.

Não importa.

Que desses ares não quero nomes,nem passados...

só quero viver momentos

... e

construir o tempo

de estar junto com você.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Vida

O passado é um aprendizado...
ponte que me leva à você
Quero ser a ponte que te leva à felicidade
como você é a minha.
Se um dia assim não for mais
vamos deixar o amor ficar
e nos deixar virar passado
pra amizade sempre estar.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Ar

Caminho pelos seu lábios
só por caminhar
sem ter medo de parar
e ficar a te olhar
só por olhar...

Surpreendo-me com suas palavras
que passeiam sem medo de mostrar
o que você sente.

Uma borboleta tão pequenininha e linda
mas com fruto de semente madura
Olhos que riem
e boca que me prende
Assim...eu não sei por onde flutuo.

sábado, 26 de julho de 2008

Liberdade

“onde a vida é de sonhar, liberdade”. (Marcelo Camelo)

Com você eu vou
Para lugares até aonde a velhinha
Pode me olhar
Beijando você.

Com você me sindo mais segura
Me expondo mais.
Você tão corajoso me deixa mais forte
E mais covarde.
E eu vou te seguindo de braços dados
Até o mercado.

Depois da minha rua, te dou um abraço
De namorados.
Para os outros, grande amizade
Para nós:um peito estufado.

Grande exposição, falta de privacidade
Rejeição.
Na entrega, a luta pela minha liberdade.
Que é só minha...minha luta
De verdade.
Isto é o que sou.
O resto é dor, e medo
Dos outros.

Basta-me viver, o que posso viver
de carinho, e
amor.
Pedindo, para sempre,bis.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Desejos

Enquanto você vagueia pelos meu lábios
procurando meu ser
eu fico aqui
de olhos fechados
e sozinha.

Enquanto a onda briga com os grãos de areia
e se infiltra nelas
eu estou a te olhar
e a caminhar, enquanto me observas
ao longe, no calçadão.

Quero ter-te de novo
e esquecer o tempo em seus braços
enquanto achas meu corpo nu.

Quero...porque ainda te desejo
mesmo em nosso acordo indefinido
e impossível.

Porque as palavras frias me matam, aos poucos
e as medíocres não salientam nenhum desejo
em meu corpo vil cotidiano
Quero o calor de sua boca e sua palavras indignas
que meu corpo em febre
nem consegue agüentar.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Vazio

Queria poder chegar em você
Como chego em todos os outros.
E falar com você, só por falar
Sem querer ficar mais.
Queria que seu cheiro não ficasse em minhas roupas

e em minha memória.
Queria... entre todas as coisas
não temer mais.
Mas há muito tempo tenho visto,
Que nem tudo faz sentido.
Porque mesmo te querendo
Não confesso,o quanto sinto.
Paciência.
Um dia, eu aprendo com minha solidão
E prepotência
Que tudo que não fiz, foi uma grande perda de tempo.

sábado, 5 de julho de 2008

Procuras e perdas

No fundo, toda procura é uma ato solitário;
e a perda ou é fruto da necessidade ou da estupidez.
Nesta vida, quanto mais se aprende, mais se descobre que a felicidade não vem de fora. Ela estava começando a aprender essa lição, de tanto caminhar solitária pela sala.
Estava extremamente cansada,quando ouviu o portão se abrir. Desligou as luzes, e foi rapidamente até o quarto sem fazer barulho.Entrou debaixo do cobertor, e ficou lá, aparentemente dormindo. Aos poucos, o espaço foi ganhando um novo ruído, além da sua respiração. E a cama ficou com mais peso.
Ficou um bom tempo, sem ter coragem de virar seu corpo para vê-lo. Esperou até perceber que ele estava dormido. Então se virou, e pegou seu corpo docemente, como se fosse por direito seu. Um rio ganhou força, e saiu sem vontade pelos afluentes dos seus olhos. Nos cabelos do peito dele, ela ficou, e se perdeu coberta pelo cheiro do sexo da outra.
Porque o amava, se virou. E não o olhou mais. Dormiu.
Quando acordou, ele já tinha ido. Iria voltar, como sempre, para seu espaço garantido.
No amor deles havia estradas de mão única. E ela já estava cansada de ficar tantas vezes caminhando sozinha por elas, enquanto ele saia para o deserto à procura de outros caminhos.
No fundo, ela queria ser igual a ele. Conseguir esquecê-lo, nem que fosse uma vez. Ela ia tentar, precisava tentar. Era sua forma de se amar, negando-se, negando o seu amor. Talvez assim, conseguiria estar perto dele, sem julgá-lo novamente.
Tentou.
O primeiro passo, quase sem força, saiu por uma vontade inventada do caminho sólido, e pisou na areia sem forma. Ficou uma primeira pegada, e aos poucos, outras foram se formando.
Andou sem rumo, mas firme até que ouviu, um dia, ecos. Uma curiosidade brotou em seu peito e resolveu seguir, mesmo com medo, esses ecos...
A estrada ficou distante. E um dia, quando olhou para trás não a via mais.
Não ouvia mais o portão se abrindo.
E ele ficou só, com seu peso na cama.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Primeiro-Passo

"Um beijo doce numa suave pele pétala"

Para quê serve a rosa?
Para se conseguir outra rosa.
Para quê serve o beijo?
Para se manter a utopia de amar.
E a utopia?
Para se ter sempre algo a alcançar.
Para quê serve o amor?
Para aprender a viver.
Porquê eu quero você?
Para completar o meu ser.
E se eu tiver você?
O dia vai ter mais beleza em nascer.

domingo, 22 de junho de 2008

Levaram mais um anjo

À noite, quando a estrela brilha mais forte
é porque os sinos tocam
clamando por um grande evento.
Um beijo carinhoso, um sorriso lindo
um adeus - até logo.
Quem ensina o sorriso, faz um caminho
sem fim de alegria...
As flores perfumam o jardim
em agradecimento, como boas aprendizes.
Mas mesmo como boa aprendiz, todo mestre sabe
que perto ou longe, ele sempre vai está
nos erros, pra ela lembrar de tentar novamente
ou nos acertos, como um graças a Deus.

Boa sorte, no seu novo caminho a trilhar.Até.

sábado, 14 de junho de 2008

Entre o silêncio e a entrega

Um cachorro tem um apelo magnífico por um estranho carinhoso, e das lembranças, o cheiro do homem ficará sempre em seu faro. Quando sentir o perfume amigo novamente, seu corpo balançará e deixará receber todo carinho, pedindo-o. Mas no meio do encontro saberá também demonstrar o apreço que tem: cabeça esfregada nas pernas, lambidas, latidos, mordidas que só ele consegue fazer sem machucar; é tudo muito primitivo, mas é este o seu instinto, porque é próprio da alma viva e alegre, saber sentir, dar e receber amor.
...
...
De tudo nesta vida que há, muito se tem de inventado.
Silêncios tornam-se amargos, na covardia que se estende por trás.
É que correr riscos, ninguém quer mais. Mas se há de compreender,
porque de riscos dificilmente se sai ileso.
Contudo, qual graça há em viver uma vida sem graça, sem aventura?
Não se confunda, e não minta pra ti, acreditando que não ter briga
é estar em paz.
Se é que há esta paz, que os beatos correm atrás.
Se o jardim está silencioso, estranhe se há muito tempo está a balançar na cadeira
sem que niguém lhe tenha chamado.
É só olhar, por sua janela gradeada, o andar apressado das pessoas
com medo de outras pessoas.
São cães que não têm focinheira, e que podem matar; por isso, ande armado
pra de surpresa não ser pego.
Mas daqui da janela, se vê algo mais. Que homens não nascem cães.
E dores e machucados, todos tem, só que há gente que tem a mais.
Há de se entender? Entrar nesta vida já chorando, com saudade ou medo do que se pode ganhar, nesta terra, já tocada e regada de sangue, que esses são frutos também de nossos avós.
E talvez, entremos a andar nela, sem fazer algo de muito diferente.
É só olhar o jornal, dobrá-lo e deixar o rio vermelho passar pela sala.
Rio de afluentes infanto-juvenis, que desde de pequeno é tomado como grande, só porque
aos 7 já tem que colocar comida dentro de casa.
E de onde vieram, reclamam suas origens, como que se delas não tivessem sido paridas.
E com medo, o pequenino afluente já resolve tomar seus próprios rumos.
Do jardim, tudo é paraíso. Da janela, se vê um grande inferno.
Andar nele, não é muito uma escolha safa. Mas de safos um mundo bom não têm.
E lá fora não é muito diferente do que sinto aqui dentro.
Entre os sons estridentes, ouço meu coração abafado e enclausurado no meu peito de fácil acesso.
Que ganha aos poucos medo de ser encontrado, outra vez.
O cristal sai espatifado depois do seu encontro com o tijolo.Algo pior? Um olhar estático, desmotivado, pelo desencontro das palavras com o sentimento preenchido dentro.
Nesta vida já se entra perdendo e querendo colo de mãe.
Em todos, os bons são quem machucam mais.
Dos maus não se espera nada, e nada de ilusão se tem pra confiar.
Mas quando machucado se está, começa-se a duvidar que caminho se tem a tomar, nesta roseira, sem se machucar.
Este caminho não há.
Da beleza e doçura da rosa se brota todo um encanto, mas é seu caule com espinhos,
que faz o vermelho orgânico brotar de ti.
De todos, há algo de bom e mal; felizmente ou infelizmente.
Pois se há decepção nisto; se te achavas realmente muito bom, verás que não és assim.Infelizmente.
Mas se de muito lhe têm falado, que não prestas, e está sempre a ver isto em ti; notarás algo novo, que muito de mentiras tem os outros, também. E não és tão mal assim.Isso já é o ínicio que precisavas, pra trilhar seu caminho e escolher qual dos dois passos quer deixar mais forte na terra.
E começando a caminhar, tentará correr, pelo tempo perdido pela espera de algo. Não faças isso, que de tudo nesta vida se é adaptado, e o tempo e a experiência se ganha ou se perde passo por passo. Paciência.
Aos poucos, notará que não estará sozinho. E por um momento ficarás feliz por isto. Mas poderás ficar receioso de ser machucado.
Mas quem está ali, há de estar ali andando há tanto tempo na sua frente, que já terá passado pelos perrengues que você passou, somente parou, por se cansou de estar tanto tempo sozinho a caminhar, e viu que não eras tanto tempo pra ti esperar.
Vocês se encontram, e sem palavras, criam um novo contrato.
Com sentido só para os dois.
Caminham lado a lado: o homem e o cachorro .
O tempo vai passando e o cachorro pacientemente vai deixando a língua pra fora, enquanto o homem caminha com o peito erguido, mas por dentro muito caído. Até que se cansa de demonstrar, e pára, vencido pelo cansaço.
O companheiro pára também, e fica ali ao lado, rindo silenciosamente pelo orgulho do companheiro.
E descansa junto e relaxadamente. Porque da vida, já está a muito tempo acostumado.
Com o descanso, começa novo caminhar, e o homem anda com esse sábio vizinho que há.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Necessidades

"...a vida, fechada diante do espelho, fica perigosamente vazia de sentido."

nO mUnDo DE BoNeCas
NãO há peLE.
...

hÁ PLÁSTiCO.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

RESPOSTAS

"EU NÃO SEI DIZER
NADA POR DIZER
ENTÃO EU ESCUTO
SE VOCÊ DISSER
TUDO O QUE QUISER
ENTÃO EU ESCUTO
FALA FALA
SE EU NÃO ENTENDER
NÃO VOU RESPONDER
ENTÃO EU ESCUTO
EU SÓ VOU FALAR
NA HORA DE FALAR
ENTÃO EU ESCUTO
FALA FALA"

(Fala - Secos e molhados)

Mudanças II

Acordou com uma imensa dor de cabeça, daquela escuridão.
Abriu a janela, como se fosse o remédio. O dia estava nublado. As paredes do quarto estavam sujas.
Sol brincalhão, e preguiçoso, que nunca aparece quando se necessita.
Sentiu falta. Deu saudade. Estava sozinho.
Mas na sua mente tinha boas lembranças. Não passara tudo em vão.
Aprendeu muitas coisas, e muitas mesquinharias também. Ficou escroto, perdeu muito, e ficou assim, sozinho.
Se tornava necessário agora,reaprender.
Deu vontade de chorar, a lágrima caiu da pupila e parou em algum lugar que ninguém via.
Queria ser visto, mas não queria mostrar a origem daquela gota salgada.
Como se colocasse em vitrine, queria mostrar só o seu melhor, ou o que os outros queriam ver.
Começou a se esquecer. E a esquecer os outros.
Ficava com medo, quando se via sozinho, no meio de tanta gente. Não entendia nada.
...
Dormia. E acordava com a esperança de abrir a janela, e encontrar um dia azul e com Sol. Mas o dia continuava nublado.
Olhou para as paredes do quarto.
Amarelo, pensou.
Não tinha vontade, mas foi na rua mesmo assim.
Comprou amarelo, mesmo. E pintou todo o quarto daquela cor.
Quando acabou estava cansado, se sentiu um pouco realizado, e um sorriso começou a se esboçar em seu rosto.
Mas sentia falta de algo.
Dormiu.
Acordou e não abriu a janela. Ficou ali, olhando pra parede.
Resolveu desenhar-se nela.
Pegou umas tintas diversas, e caricaturou-se no amarelo.
Quando terminou, ria sem parar.
Resolveu continuar, e colocar outras pessoas também.
Quando terminou,ria sem parar.
Ficou cansado e dormiu. Sonhou. E acordou com novos pensamentos e companhias. De cada imagem, desenhava-as no amarelo. E ria mais ainda, sem parar.
Abriu a janela, o dia estava nublado.
Mas lágrimas não caiam mais.





terça-feira, 22 de abril de 2008

Flor

Onde ela estava que eu não tinha visto?
Se os beija-flores não a tivessem despetalado
Talvez, eu a aprovasse.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Empiripocando-se

Um tic-tac de palmas
Um bum-bum dos olhos
São as cores no coração
de um fio salpicado sem caminho
sem direção
Olhar perdido -horizonte de sensação-
Tempo sem resposta - telefone angustiante-
Uma pulga escondida
Um pingo sem cansaço
Uníssono no abismo
Num peito tranqüilo
Um beijo sem lábio.
Verde relaxante
Escolha refinada
Desejo abraçado
Fuga retardada
Pro único momento
Sinal amarelo.

Pelúcia

Sorrisinho bom que se faz nos dias de frio.
Coração apressado que pesa tanto.
Encanta minha alma, e me faz leve
pra fechar os olhos e poder voar
sempre.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Rosas

“Nada existe que não se esqueça, alguém insiste e fala ao coração
Tudo de triste existe que não se esquece, alguém insiste e fere o coração”

Começou tudo numa brincadeira, numa brincadeira gostosa de mergulhar
Sem vontade de voltar a superfície, pra respirar.
Tudo a volta difuso, e estranho
Mas aonde eu estava, era bom de estar.
E por segundos, tudo pareceu não poder mudar.
Não me preocupava, não pensava, só sentia.
Algo aconteceu. Conheci alguém.
Alguém que me fez pensar.
E sem sair daquele encanto, me vi mergulhada em outro.
E tive mais vontade de encontrar esse outro,tão difuso quanto eu.
O tempo passou, e eu sai desse mar.
Em qual mar, ele se encontra?
Agora, tenho caminhado...a terra nos meus pés
Não me deixa me encantar novamente
Mas me deixa me encontrar.
Os corpos que vejo agora, não são mais difusos,
Mas suas almas são mais distantes.
Meu ambiente é de rosas.
Elas são meus amores.
Queria ser só olhos
Só para olhá-las.E amá-las.
Mas meus dedos existem, e tenho vontade de senti-las
Pego suas pétalas em minha mão, e por um momento
Elas fazem parte de mim.
E eu sou só delas, mesmo que eu não faça parte delas.
Esse é o nosso momento, nosso silêncio,nosso acordo.
Agora estou encontrando outra alma.
Alguém que me faz sentir.
É estranho, mas não tenho medo.
É estranho aguardar o que não se sabe o que vai aguardar.
Mas sei que tenho que aguardar.
Mudanças ocorrem em mim. E meus olhares não são mais os mesmos.
Não sei o que são, não sei...
Mas tudo parece tão simples.
Não tenho pressa.
Hora de mudar... simplesmente isso.
Sem medo... eu me apresento.
Para quem pode me achar.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Casos I

- Quem ele acha que é?
A cabeça dela estava quente. Não agüentava mais o jeitinho do neguinho.
Marrento, galinha, safado, canalha, enfileirava rapidamente todos os xingamentos que podia imaginar sobre ele.
Ela gostava dele, isso era o que achava pior.
Morria de ciúmes, mas não queria demonstrar, e achava que fingia muito bem, virava o rosto, os olhos enchiam rapidamente de água, não se sabe de raiva ou de que mais, mas o fato é que era só uma mulher chegar perto, tocá-lo, ou soltar uma frase mais doce e intima, que essa tal “raiva” aparecia em sua face.
Ficava na sua, quietinha. Ele não fazia seu tipo, mas não sabia o porque, o neguinho mexia com ela. Era o jeito de falar, de andar, de pensar, tudo diferente dela, mas então porque ele mexia com ela?
Era só uma atração, ia passar.
Imaginou.
E se cansou de esperar.
A atração continuou. Era gostoso pensar, nem que fosse, às vezes, que podia ser a mulher dele.
Pelo menos, quando ele a abraçava, a olhava, se sentia sua mulher. Ficava sem forças de quebrar o olhar, mas aos poucos sentia sua face se enrubescer - talvez por medo de achar que ele estava percebendo tudo, medo dele se achar gostoso, de achar que ela era igual as outras, a achar fácil,não!!!... definitivamente, não queria lhe dá mole assim, tão fácil – e então, virava o rosto, escondendo qualquer sentimento.
Que raiva! Tanta gente pra gostar e logo ele.
O rapaz era marrento mesmo, mas não era má pessoa. Forma de expressar, máscara, sabe?
No fundo, estava cansado da vida de sempre. Nada de novo, os dias estavam muito monótonos. O coração nem vibrava tão gosto. E a única gatinha, que lhe prendia não ligava pra ele. Reparava tudo nela, gostava disso.
Quando ela vinha de vestido é que matava o pobre rapaz. Não conseguia desgrudar os olhos, ficava com medo de parecer idiota, parava e ficava na tua, ia conversar com os amigos, com as amigas. E quando olhava pra ela, a menina estava com o rosto virado, sequer o notava.
Eles não tinham nada em comum,ela nem era afim de samba. Achava ela estranha, mas o pior, é que gostava desse jeito estranho.
Achou que era atração, ia passar.
Imaginou.
E se cansou de esperar.
Sonhava, deseja sua boca. Ficava olhando pros olhos, e sem perceber já estava olhando para a boca. Tentou se policiar. A menina podia achar que ele era um tarado. Teve medo. Dela não aceitar nem mais seus abraços. Teve medo de tocá-la e acabar “demonstrando” seus desejos. A menina ia achar que ele era tarado.
Mas era só, ele abraçar que tinha vontade de lhe apertar e beijá-la. Era só olhar pra ela, que tinha vontade de beijá-la. Quando dormia sonhava que não só estava beijando, como transando com ela, e se fosse mais sincero, deixaria escapar um “fazendo amor”.
Maldita atração que não passa.
E se não fosse atração, fosse algo, mais?
Era algo mais. Mas estava com medo de pensar isso.
Saiu e dançou com uma menina, mas logo a viu no final do salão. Tentou disfarçar mas o corpo estava quente, só de saber que ele estava tão perto dela.E ela nem olhava para ele.
Enquanto isso, ela sentia seu rosto quente e vermelho com “raiva” daquela intimidade que ele dançava com aquela “mulher”.
Maldita atração que não passa.
E se não fosse atração, fosse algo, mais?
Era algo mais. Mas teve medo de pensar isso.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

A chuva

A chuva cai lentamente, e aos poucos vai molhando meu rosto e meu corpo sentado no banco da praça. Meus cabelos secos vão se encharcando com o tempo, e subitamente tenho um ataque de espirros. Tenho guarda-chuva, mas agora não quero mais me proteger.
Depois do ataque, o riso. A felicidade resplandecendo dentro de mim.
Tudo novo.
Eu tenho saudades de você.
Só consigo lembrar de mim, sem você e com você. Da minha liberdade com seus abraços, de minha vontade de sorrir, e de como eu estava bem só, estando com você.
Antes...a vontade de chorar, a vontade de gritar, sufocado dentro de mim, enquanto meu rosto seco de lágrimas e mostrando serenidade passeava pelas ruas.
Meu quarto escuro e no silêncio, refletindo meu mundo, me protegendo de tudo, até dos meus medos.
Quando você apareceu, veio suave como a chuva que cai, me encontrou como a gota encontrava meu rosto. E aos poucos me invadiu, enquanto eu não tinha mais vontade de me proteger.
Quando eu estava com você, esquecia de nós.
Quando eu te beijava, esquecia do mundo.
Quando nossos corpos se encontravam, eu só queria você dentro de mim.
Eu ri.E meus dentes apareciam.
Eu chorei, e meu olhos respiravam.
Eu fui eu, estando com você.
Mas você precisou ir, sem saber quando voltava. Eu sigo feliz, mesmo com tua ausência.
Pensando nos tempos que tivemos...
Passeando sem tanta serenidade...gritando nos jardins cheio de rosas...correndo atrás das estrelas...caindo e se machucando e chorando.
Aprendi a ser feliz, te amando.
E enquanto você me conhecia, eu me descobria.
Tudo lentamente, como a gota que cai no meu corpo, me descobrindo.
Eu descobri você, no nosso tempo de amor.