sábado, 14 de junho de 2008

Entre o silêncio e a entrega

Um cachorro tem um apelo magnífico por um estranho carinhoso, e das lembranças, o cheiro do homem ficará sempre em seu faro. Quando sentir o perfume amigo novamente, seu corpo balançará e deixará receber todo carinho, pedindo-o. Mas no meio do encontro saberá também demonstrar o apreço que tem: cabeça esfregada nas pernas, lambidas, latidos, mordidas que só ele consegue fazer sem machucar; é tudo muito primitivo, mas é este o seu instinto, porque é próprio da alma viva e alegre, saber sentir, dar e receber amor.
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De tudo nesta vida que há, muito se tem de inventado.
Silêncios tornam-se amargos, na covardia que se estende por trás.
É que correr riscos, ninguém quer mais. Mas se há de compreender,
porque de riscos dificilmente se sai ileso.
Contudo, qual graça há em viver uma vida sem graça, sem aventura?
Não se confunda, e não minta pra ti, acreditando que não ter briga
é estar em paz.
Se é que há esta paz, que os beatos correm atrás.
Se o jardim está silencioso, estranhe se há muito tempo está a balançar na cadeira
sem que niguém lhe tenha chamado.
É só olhar, por sua janela gradeada, o andar apressado das pessoas
com medo de outras pessoas.
São cães que não têm focinheira, e que podem matar; por isso, ande armado
pra de surpresa não ser pego.
Mas daqui da janela, se vê algo mais. Que homens não nascem cães.
E dores e machucados, todos tem, só que há gente que tem a mais.
Há de se entender? Entrar nesta vida já chorando, com saudade ou medo do que se pode ganhar, nesta terra, já tocada e regada de sangue, que esses são frutos também de nossos avós.
E talvez, entremos a andar nela, sem fazer algo de muito diferente.
É só olhar o jornal, dobrá-lo e deixar o rio vermelho passar pela sala.
Rio de afluentes infanto-juvenis, que desde de pequeno é tomado como grande, só porque
aos 7 já tem que colocar comida dentro de casa.
E de onde vieram, reclamam suas origens, como que se delas não tivessem sido paridas.
E com medo, o pequenino afluente já resolve tomar seus próprios rumos.
Do jardim, tudo é paraíso. Da janela, se vê um grande inferno.
Andar nele, não é muito uma escolha safa. Mas de safos um mundo bom não têm.
E lá fora não é muito diferente do que sinto aqui dentro.
Entre os sons estridentes, ouço meu coração abafado e enclausurado no meu peito de fácil acesso.
Que ganha aos poucos medo de ser encontrado, outra vez.
O cristal sai espatifado depois do seu encontro com o tijolo.Algo pior? Um olhar estático, desmotivado, pelo desencontro das palavras com o sentimento preenchido dentro.
Nesta vida já se entra perdendo e querendo colo de mãe.
Em todos, os bons são quem machucam mais.
Dos maus não se espera nada, e nada de ilusão se tem pra confiar.
Mas quando machucado se está, começa-se a duvidar que caminho se tem a tomar, nesta roseira, sem se machucar.
Este caminho não há.
Da beleza e doçura da rosa se brota todo um encanto, mas é seu caule com espinhos,
que faz o vermelho orgânico brotar de ti.
De todos, há algo de bom e mal; felizmente ou infelizmente.
Pois se há decepção nisto; se te achavas realmente muito bom, verás que não és assim.Infelizmente.
Mas se de muito lhe têm falado, que não prestas, e está sempre a ver isto em ti; notarás algo novo, que muito de mentiras tem os outros, também. E não és tão mal assim.Isso já é o ínicio que precisavas, pra trilhar seu caminho e escolher qual dos dois passos quer deixar mais forte na terra.
E começando a caminhar, tentará correr, pelo tempo perdido pela espera de algo. Não faças isso, que de tudo nesta vida se é adaptado, e o tempo e a experiência se ganha ou se perde passo por passo. Paciência.
Aos poucos, notará que não estará sozinho. E por um momento ficarás feliz por isto. Mas poderás ficar receioso de ser machucado.
Mas quem está ali, há de estar ali andando há tanto tempo na sua frente, que já terá passado pelos perrengues que você passou, somente parou, por se cansou de estar tanto tempo sozinho a caminhar, e viu que não eras tanto tempo pra ti esperar.
Vocês se encontram, e sem palavras, criam um novo contrato.
Com sentido só para os dois.
Caminham lado a lado: o homem e o cachorro .
O tempo vai passando e o cachorro pacientemente vai deixando a língua pra fora, enquanto o homem caminha com o peito erguido, mas por dentro muito caído. Até que se cansa de demonstrar, e pára, vencido pelo cansaço.
O companheiro pára também, e fica ali ao lado, rindo silenciosamente pelo orgulho do companheiro.
E descansa junto e relaxadamente. Porque da vida, já está a muito tempo acostumado.
Com o descanso, começa novo caminhar, e o homem anda com esse sábio vizinho que há.

Um comentário:

Dominique Arantes disse...

Nossa! o melhor do blog!!!



Parabens!