sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Testemunha

Apago uma parte de mim
porque escolho por assim fazê-lo.
Frio e crua
mutilo-me
antes que corte-me por inteira.

O sangue brota
do risco em que me deixei estar.
Estou viva...
Respiro e vejo-me no espelho.
Estou mutilada.
Sou parte do que era de mim.

Os velhos e repetidos erros não me deixam voltar para trás.
Só novos erros me fazem olhar para frente.
Hoje
o que sinto
não é dor
não é nada.
É parte de algo
que não consigo nomear
no vazio que ainda está.
Mas não há machucado aberto em mim.
Só a cicatriz de quanto acreditei em fragmentos das minhas sensações
acreditando isto ser inteiro.

Demorei
a perceber
que o inteiro
se constrói fora do meu corpo.
Em um momento, um leve momento
de intenso desgaste
de estar.

Esperei a ponte
ela não veio
o início e o fim estavam em acordos
só não houve o meio.

Sou o amor da desconstrução de mim
Sou o indecente
que brota na minha essência
de desejar viver.
No espelho espetaçado
um sorriso
me encanta e me atrai.
Será que eu ainda acredito em algo?

Fui.
Enfeitiçada.
Uma criança medrosa
atraída
pelo risco e medo de não sentir
o risco e o medo de ser-me
eu
em outro
eu mesma.
Fui
com medo...
De não ouvir o tic-tac
que marca
cada segundo que se deixa
de estar com meu outro
meu Outro.

A Alice pousou
A minha medula deslumbrou
o resto do esqueleto.
A veia inchou
e o resto foi dor
formigamento
e suor.

Há marcas na sala.
Há marcas em muitos lugares
os vizinhos não viram nem ouviram
só viam e ouviam
o que para eles era amizade.

Ai, doce memória...

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